Papéis, lembranças e emoções





Contas de luz, telefone, água, gás, boletos diversos, vencidos e pagos, carnês de imposto predial, guias de imposto de renda e de previdência social, papéis, papéis e mais papéis. 
É uma loucura guardá-los e, após tempos variáveis, descartá-los. 
Procuro fazer esse tipo de descarte, de ano em ano. É um trabalho maçante e extremamente cansativo. E toca a olhar, um por um, a rasgar e a descartar. 
Nesse ano, para facilitar, resolvi usar uma guilhotina elétrica para, pelo menos, não ter o trabalho extenuante de rasgá-los à mão. 
Alguns papéis ficam guardados por um ano, mas há outros que devem ficar por cinco, e até dez. 
O fato é que todo ano é necessária uma faxina de papéis, para evitar o acúmulo e uma dificuldade maior, na hora da arrumação. 
Só que, além desse tipo de papel ou documento descartável, há outros que se mantêm pela vida. 
São anotações do tempo da juventude, boletins escolares com assinatura dos pais, cartas de amigas, de familiares, cartões de felicitações por motivos diversos, enfim, papéis carregados de lembranças e emoções. 
Guardados em caixas, por muitos e muitos anos, acabam ficando esquecidos. Dessa vez, aproveitando o tempo do isolamento dentro de casa, e a necessidade de organizar melhor aquilo que merece ser conservado, eles também passaram por uma faxina. Não de descarte (poucos tiveram esse fim), mas de classificação. 
E se a análise dos papéis com números, quase todos relativos a pagamentos, causaram cansaço e tédio, os papéis carregados de palavras, ou desenhos, provocaram uma sensação maravilhosa. Uma mescla de lembrança, saudade, afeto e carinho, que me levou ao passado, às coisas gostosas vividas, ao tempo da convivência com meus pais, ao tempo do meus filhos crianças. 
Foi muita emoção, uma emoção boa de ser sentida. Cartas dos meu pais. 
Uma carta escrita por minha mãe, quando após os 60 anos, ela foi conhecer Paris. Li com muita saudade, sorrindo, do princípio ao fim, percebendo seu entusiasmo com tantas novidades, e imaginando como ela estava feliz. 
Muitos desenhos das minhas crianças. Casinhas, bonecos, corações, muitos acompanhados dos dizeres “Mamãe, eu te amo”. Cartinhas em papel lindo, delicadas, com letra caprichada, e com declarações de amor. 
Muitas cartinhas da Priscila, repletas de carinho. 
Muitos bilhetes do Gustavo, com versos poéticos, repletos de criatividade. E até um acróstico, incrível porque escrito por ele aos sete anos. 
Cartinhas endereçadas ao Papai Noel, ou à Mamãe Noela, com pedidos modestos. Entre elas, uma do Gustavo que, aos 12 anos fez uma relação de vários pedidos como: um coração aberto, um abraço, um beijo, um Feliz Natal, um Feliz Ano Novo, e terminou dizendo que o que ele realmente queria nenhum dinheiro compraria: amor eterno. E uma da Priscila também com uma lista de alguns presentes simples, que incluíam "um abraço, um feliz natal, amor e carinho", mas ressaltando que a escolha era minha, "de acordo com a grana". 
Que lindas as minhas crianças. 
Fiquei muito feliz ao reviver todas essas emoções do passado, e perceber como os filhos-crianças, expressam seus sentimentos com facilidade. Qualquer bilhetinho, qualquer desenho, é uma oportunidade para mostrar amor. 
Vindo para a atualidade, senti como o Gustavo e a Priscila, adultos, com suas atitudes e cuidados, me confirmam tudo que disseram anos atrás pelos desenhos, pelas cartas e bilhetes. 
Como foi bom conservar esse acervo, e sentir toda a emoção que contém.

Nota: escrevi esse texto no ano passado, 2020, e hoje, ao fazer uma arrumação nos meus arquivos, dei com ele. Tentando lembrar o motivo de não tê-lo publicado na ocasião, cheguei à conclusão que queria terminar a arrumação dos papéis pessoais, com cartas, bilhetes e cartões postais dos filhos já mais crescidos, para decidir se aumentaria o texto, ou se escreveria um novo.
Para não deixar o tempo passar mais, aqui vai o primeiro.

Comentários

  1. Falou tudo. Eu tenho também uma carta do meu pai para minha mãe quando estavam noivos. Preciso fazer uma busca e organizar tudo!

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  2. ah, um texto q tb se tornou história. eu tb faço arrumações, mas não sou tão organizada assim. se cuide. beijos, pedrita

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  3. Aqui também foi tarefa do Kiko fazer essa seleção e corte de papeis.
    As coisinhas guardadas ficam e ficarão sempre, enquanto vivermos.
    Cada um tem a sua parte guardadinha por aqui...
    É muito bom quando, de repente, encontramos algo deles.
    Adorei te ler!
    beijos, tudo de bom,chica

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  4. Voltei agora pra avisar que finalmente apareceu na lista de leitura! Atualizou. Fica tranquila... beijos, tudo de bom,chica

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  5. O descarte de papéis ou até a simples 'consulta' feita em pastas e caixas de "papel-documento" ou mensagens pessoais produzem mesmo as reações tão bem descritas neste texto. À tarefa cansativa e ingrata de analisar papéis burocráticos, se contrapõe o embevecimento que sentimos ao nos depararmos com mensagens de pessoas que amamos, registros feitos por essas pessoas ou por nós próprios, em outros tempos e outras circunstâncias.

    Beijo e boa semana

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  6. Nem tudo é mau e cansativo. Olhar papéis escritos pelos filhos quando eram pequenos e relê-los agora que são adultos gera um sentimento, quiçá lágrima no canto do olho.
    Gostei muito do seu blogue. Voltarei.
    .
    Uma semana feliz. Cumprimentos poéticos
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  7. Que belo texto, querida Heloisa. Tantas e tão bonitas lembranças dos seus filhos ou dos seus pais.
    Os restantes papéis até dão gosto por no lixo, não é?
    Bjn
    Márcia

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  8. Adorei o texto, compartilhei as mesmas emoções.
    Como sempre você traduziu com leveza e afeto as lembranças que tanto nos fazem bem. Parabéns.
    (Pelo WhatsApp).

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  9. Lindo Heloisa! Essas coisas trazem um calorzinho no coração da gente, né! Preciso fazer uma revisão por aqui também.
    De uns anos para cá eu tenho colocado minhas contas na água para descartar, aproveito água da lavagem de roupa e deixo de molho, fica bem molinho e facilmente de desfaz,
    Abração!

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  10. Heloisa, estaba preocupada viste que te escribi dos veces, me alegro de que estéis bien y que sólo te has demorado por tus muchas ocupaciones. Tienes razón es arduo el ordenar papeles, por suerte ese trabajo en casa lo hace mi marido, aunque yo guardo tantas escritos, cartas, tengo hasta de mi abuelo que ahora tendría más de 150 años, supongo que cuando yo falte mis hijos se desprenderán de todo, pero a mi me gusta guardarlo y saber que aunque no lo repase, ahí está. Un beso grande

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  11. Oi, Heloisa!
    Sou um perigo para rasgar o que não devo, mas faço esse trabalho com atenção. A maioria das contas pago online e o Banco se encarrega de guardar e só resgato quando tenho que comprovar algum pagamento. Das lembranças, o que guardo de mais precioso foi a troca de correspondência que tive com minha mãe na época que entrei para a faculdade. Ela cheia de cuidados e preocupada. Não imaginava ou imaginava e por isso os cuidados, que um dia eu ficaria longe dela em definitivo.
    Beijus,

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