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Mostrando postagens de 2015

Viver e morrer

Em abril de 2013, assisti o musical Alô Dolly, em São Paulo, e fiquei encantada com a atuação da protagonista Marília Pêra.  Durante duas horas ela dançou, cantou, interpretou e seduziu o público. Na ocasião, ela estava com pouco mais de 70 anos e, inspirada nela, escrevi um pequeno texto sobre “Envelhecer bem” . Sim, ela estava em pleno vigor de vida. Ágil, com postura perfeita, fazendo aquilo que amava. Passados pouco mais de dois anos e meio, chega-nos a notícia da morte da atriz. Ela que estava tão bem, e a quem a palavra velhice parecia tão inadequada, encerrou sua trajetória entre nós. Abatida por doença grave. Será que quando a assisti, o processo da doença já estava em andamento? É possível. Mas lá estava ela no palco, vivendo e brilhando. A suposição é que, enquanto conseguiu, manteve seu trabalho. O mesmo trabalho que, feito com amor, fez com que envelhecesse bem. Porém, para todos existe um ponto final. Aquele que nasce, morre. Nada, contudo, afasta a

E o tempo passou!

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Desde agosto que não escrevo por aqui. Nem sei bem o motivo. Até que, hoje, me dei conta que o tempo passou. Não pelo fato de já ser dezembro, mas por perceber, mais uma vez, que minha netinha está quase me alcançando em tamanho. Sem dúvida que esse dia iria chegar. Mas chegou muito rápido. A lindinha tem só 9 anos! Criei esse blog em junho de 2008, motivada pela minha então recente vida de avó. Minha menininha estava com 1 ano e 11 meses. Desde a época fui registrando com muito amor e carinho todo seu desenvolvimento,  intercalando suas histórias com outros acontecimentos e vivências. A primeira foto, que aqui coloquei, foi essa: E depois dessa, foram muitas outras. Sempre com o intuito de registrar fases e marcar épocas. De repente, os registros foram falhando. Mas, hoje, achei demais. Vendo umas fotos feitas no último domingo, 29/11, com minha menininha quase da minha altura, assustei. Então decidi: não vou deixar passar. Vou reabrir meu blog. E se

Éramos todos tão jovens.

Éramos tão jovens! Todos com pele lisa, olhos brilhantes, cabelos castanhos, loiros ou pretos. Quando nos encontrávamos, a alegria estava presente. Era a época dos anos dourados. Divertíamo-nos nas brincadeiras dos sábados à noite, que eram bailinhos na casa de alguma menina do grupo, nos “footings” no Gonzaga, nas matinês dos cinemas, na praia nas manhãs de domingo. E nos finais do ano, nos bailes de formatura, com todos vestidos a rigor. Dançávamos sambas-canções, foxtrotes, boleros e, o ponto alto, as lindas valsas de Strauss. Éramos todos tão jovens! Partimos para a vida. Sem despedidas. Casamos, tivemos filhos e netos. E ontem, reencontramo-nos em torno da cama de uma das “meninas” que mais organizava bailinhos na sua casa. Todos na casa dos setenta. Todos com cabelos brancos. Todos com as marcas do tempo. E a “menina”, ligada por fortes laços a todos nós, na sua cama de hospital, vivendo dias difíceis e nos fazendo pensar na realidade do ciclo da vida.

E ela está crescendo.

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A menininha está crescendo. Pouco a pouco, mas rapidamente. Começa a deixar os ares de menininha, e às vezes parece mocinha. Alegre, sensível, amorosa, linda. No último dia 13, completou 9 anos. E há 9 anos completa nossa vida com amor e alegria. É tão feliz, que um só dia, o dia do aniversário, é pouco para festejar.  Antecipa a data, para comemorar com os amigos da escola, antes do início das férias. No dia certo, passando férias em Santos, festeja na casa da vovó. Em viagem de férias, na Bahia, mostra para a turminha das brincadeiras que é preciso comemorar a vida. E a vovó, ainda que em pensamentos, festeja todos os dias, em todo resto do ano, essa bênção especial. E para registros, fotos das comemorações.                                                Dia 27 de junho - Festa com amigos.                                                                 Preparativos.                               Painéis com fotos dos primeiros meses, e de tod

Pausa

Passou junho, julho está passando, e eu, quieta. Nesse tempo todo, não deixei de escrever. Mas só mentalmente. Textos inteiros, que não passam para o papel. Não sei o que explica isso. Não. Até sei um pouco. E está na hora de trabalhar isso. Sim. Preciso ir atrás desse estado, para então retomar meu teclado.

Minha mãe não me disse.

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Tive uma longa convivência com minha mãe. Ela se foi há quatro anos e meio, prestes a completar 98 anos.  Convivência  feliz e valiosa. Ela me ensinou a ser mãe, e a amar o próximo como a mim mesma. A ser verdadeira e solidária. Me ensinou a responsabilidade e a persistência. Me passou valores importantes. Me ensinou trabalhos manuais e a arte da cozinha. Me preparou para a vida. Mas minha mãe nunca me disse que chegaria um dia em que eu teria dificuldade para prender as presilhas laterais dos sapatos. Nem que eu teria que procurar a melhor posição para vestir determinadas roupas. Também não me disse que seria complicado levantar um pé, equilibrando-me no outro, para lavá-los num bom banho de chuveiro. E que seria bom tomar cuidado para não deixar o sabonete cair no chão. Não seria fácil tê-lo de volta. E, embora soubesse bem, não me alertou sobre a hora em que eu acharia muito difícil, quase que impossível, colocar meias elásticas, quando delas precisasse. Nesse item el

Museu e o mundo

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Parece que o “mundo” não para em casa. Essa foi a impressão que tive ao visitar o Rijksmuseum em Amsterdam. O museu é lindo, tanto na sua arquitetura como no seu rico conteúdo. É realmente uma multidão que se movimenta por suas salas. E isso não ocorre num só dia. É em todos os dias, do ano inteiro. Entra ano, sai ano, e o museu tem suas salas cheias. De crianças, a idosos. Bebês em carrinhos, crianças de mãos dadas com os pais, escolares em grupos, jovens, muitos jovens. E, ainda, muitos e muitos idosos. Sãos, e nem tanto. Caminhando bem, ou com bengalas, apoiados em “andadores”, ou em cadeiras de rodas. Pessoas falando uma variedade enorme de línguas, todas ligadas pelo mesmo objetivo da busca do conhecimento e da beleza. E todos muito atentos, vivenciando a magnitude das obras que atravessam séculos. O mesmo em relação ao Museu Van Gogh, que contém a maior parte das obras do pintor que, embora tendo vivido somente 37 anos, deixou ap

Viagem: altos e baixos.

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Um turbilhão de ideias, com alguns textos redigidos mentalmente. Mas, em viagem, nem sempre é fácil escrever e publicar. E vive-se tantos momentos diferentes, que aquilo que já estava pronto na cabeça, acaba ficando ultrapassado. Foram 14 dias de viagem pelo mar, de Santos a Barcelona. No último dia, acordei com um enorme sentimento de gratidão. Gratidão pela viagem maravilhosa, gratidão pela oportunidade de poder realizá-la. E essa gratidão, acompanhada por um grande bem-estar. Mas, de repente, esse bem-estar foi se desmanchando. A incorporação a uma excursão de sete dias, que na sua apresentação parecia algo prazeroso, foi quase um desastre. Embora passando por lugares lindos, pouco nos deu a oportunidade de vê-los e aproveitá-los. Correria, saídas muito cedo com exposição ao frio, cansaço. Ao fim do período da excursão, senti-me como uma sobrevivente. E, o pior, com conclusões de desânimo: a velhice chegou com força total, viagens só bem próximas de casa. Nesses m

Histórias a bordo

Até agora, 13 dias a bordo. Desses, passamos seis sem avistar terra. Acho uma delícia! O conforto do navio, a presença constante do mar, sua cor linda, seu balanço suave, a programação musical. E, ainda, a percepção de que não se está com muita idade para enfrentar viagem longa. Olha-se para os lados e observa-se, com facilidade, pessoas bem idosas. Bem mais idosas do que nós dois. Todos, procurando viver bem, enquanto vivos. 1800 pessoas, juntas, atravessando o Atlântico. E com esse número tão grande, nem sempre é fácil o reencontro. Conhece-se alguém, troca-se ideias e passa-se dias sem cruzar com essa mesma pessoa. Às vezes, não se encontra mais. A única ocasião em que o grupo é fixo é a do jantar. A mesa é a mesma, durante todos os dias, assim como as pessoas. Isso permite um contato mais próximo e, até, o surgimento de amizades.   As outras refeições podem ser feitas em lugares diferentes, em horários diferentes e com pessoas diferentes, a cada dia. Isso permite q

Descompasso

Desde final de janeiro, vivi aceleradamente. Tive que enfrentar uma reforma total da cozinha, que havia sido invadida por cupins. E, ainda, uma reforma de um banheiro, com problemas de vazamento. Decisões e mais decisões. Escolha e compra de materiais. Sobrevivência em casa sem cozinha. Poeira e mais poeira. E sem ver o fim da reforma, saí para uma viagem tranquila: 14 dias inteiros dentro de um navio. Mar quase que o tempo todo. Lindo. Calmo. E o tempo, rendendo mais. Hoje, fui assistir à missa. Fiquei impressionada com o número de participantes. O padre fez um bom sermão e, no final, lembrou-nos de que o Papa Francisco sempre pede que rezemos por ele. Disse, o padre, que essas orações são necessárias não só por problemas internos da Igreja, mas também por incompreensões geradas pela preocupação constante que o Papa tem com os oprimidos, com os desassistidos. E eu estava pensando. Se todos nós, cristãos, tivéssemos esse tipo de preocupação, com certeza o mundo seria o

Encontro de família

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Dos 11 meses, aos 82 anos.  Alguns com cabelos brancos, outros em plena juventude e um grupinho de pequenos correndo pra cá e pra lá. Todos descendentes de Norma e Joaquim, meus pais, que se casaram em 16 de março de 1932, dando origem à nossa grande família. Escolhemos esse dia importante, 16 de março, para o início dos encontros anuais da Família Sérvulo da Cunha. Quando dia útil, a reunião se dará no sábado posterior. E assim foi, nesse ano. Marcamos nosso primeiro encontro em Campos do Jordão, no dia 21 de março, sábado. Mas o pessoal foi chegando desde o dia 20, e todos saímos no dia 22.  Um Encontro centralizado no dia 21, mas que durou um fim de semana. O lugar é lindo, todos estavam muito bem, e pudemos sentir aquele clima gostoso dos nossos encontros do passado. Lembramos dos nossos filhos pequenos, correndo de lá pra cá. Hoje, os que correm são seus seus filhos, nossos netos. Demos, às atuais crianças da família, a oportunidade de convivência com s

Tempos difíceis

Parece que uma das regras para nos sentirmos bem, é a ausência de expectativa em relação aos outros. Nada de esperar determinadas respostas, nada de aguardar determinadas ações. Outra, é não termos preocupações com aqueles que nos são próximos. Devemos tentar nos desligar de eventuais dificuldades ou problemas que possam estar enfrentando. E devemos fugir das saudades. Porque elas podem doer. E, ainda, é preciso que não nos emocionemos a cada instante. Serão essas as regras para que fiquemos bem? Distantes, quase desligados. Indiferentes? Tiramos isso, tiramos aquilo. Deixamos de pensar nos outros, evitamos esperar respostas, procuramos não sentir falta ou saudades. O que nos sobrará?

Hiperrealismo

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Aproveitando bem um fim de semana em São Paulo, fomos ver a exposição do Ron Mueck, na Pinacoteca de São Paulo. A simples ida à Pinacoteca já vale o passeio. O prédio tem uma arquitetura linda e fica no simpático Jardim da Luz, no centro da cidade. É o mais antigo museu de artes de São Paulo, tendo sido fundado em 1905 e, até 1989, dividiu espaço com a Faculdade de Belas-Artes.  De 1994 a 1998, o prédio passou por uma grande reforma, com projeto do renomado arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Por esse projeto, o arquiteto foi merecedor  de um importante Prêmio Internacional. O acervo da Pinacoteca é valioso, e representativo da arte brasileira, e muitas são as exposições temporárias que ela abriga. Desta vez a atração estava nas fantásticas esculturas de Ron Mueck, australiano que se serve basicamente de fibra de vidro, silicone e resina, para seus trabalhos hiperrealistas. As esculturas representativas de pessoas ou são enormes, ou menore

Só no Brasil, mesmo.

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Só aqui para isso acontecer. Só no Brasil, mesmo. Quantas e quantas vezes escutamos isso. E nas mais variadas situações. Mas sempre com sentido de menosprezo, ou crítica a comportamentos inadequados. Não entro nesse coro. Quero falar com bastante entusiasmo, e com sentido de enorme orgulho: só no Brasil mesmo. Só aqui para isso acontecer. Qual o lugar em que existe legislação garantindo o direito prioritário para os idosos? Qual o país que assegura, em espetáculos, museus, cinemas, e muito mais, ingressos mais baratos para idosos? Hoje estivemos na linda Pinacoteca de São Paulo, para visitar a comentada e surpreendente exposição de Ron Mueck. A fila contornava o quarteirão, e por perto não havia lugar para estacionarmos o carro. Não tivemos problema. Nos jardins da Pinacoteca é permitido o estacionamento de veículos de idosos, ou de portadores de necessidades especiais. Estacionamos com facilidade. Depois, perdemos pouquíssimos minutos numa pequena fila de