Envelhecimento





Envelhecer, não é fácil. 
Para ser um processo mais tranquilo, é preciso uma preparação durante a caminhada da vida. Desenvolver interesses, cuidar-se, conviver com pessoas amigas e afetivas. Saber enfrentar problemas, ter olhos abertos para a beleza e ouvidos atentos para a música.
Mas, não é fácil.
E as limitações físicas, que vão se instalando, obrigam a uma mudança bem acentuada. Felizmente, são limitações que não surgem subitamente. Pouco a pouco, passamos a sentir uma dificuldade aqui, outra ali.
Pensei nisso tudo, ao ler uma entrevista interessante com a atriz Marieta Severo, que no último dia 2/11 completou 68 anos de idade.
Ela entende que a idade traz um olhar mais generoso, vai apurando o olhar que se tem para o outro. 
Mas, ao ser indagada sobre o lado ruim do passar da idade, responde:
" O limite físico. Isso é uma chatice. Sempre fui uma pessoa com muita energia, mais que o normal. Não consigo mais fazer as 500 coisas que eu fazia antes. Minhas filhas sempre me dizem: ‘mas mamãe, ninguém faz 5oo coisas. A gente não aguenta fazer 500 coisas’. Agora eu não consigo. Preciso descansar, ficar mais quieta. A decadência física é muito chata. Não é a ruga no rosto que me incomoda. É você não poder mais tomar um vinho, comer um filé com molho e batata frita à meia noite impunemente. Essa limitação é na verdade uma sabedoria da natureza. Porque é pra você ir se despedindo da vida”.
Achei muito interessante porque, em parte, ela respondeu com palavras que eu também uso.
Desde meus tempos de colégio, eu dizia que “fazia 500 coisas”. 
Agora, pensando bem, será que dizia 500 coisas, ou 1000 coisas?
O fato é que sempre fui muito acelerada. Sempre tive muita energia  Já acordava com esperteza e ia emendando uma coisa atrás da outra.
No tempo do trabalho, muitas vezes, na ida ou volta do Forum, ia resolvendo questões pelo caminho.
E, de repente, comecei a sentir cansaço. Assustei.
Numa consulta médica, falei sobre esse cansaço. Minha médica pediu que eu relatasse como era meu dia. Quais eram minhas atividades normais. 
No meio da minha resposta, ela disse: e você acha que, fazendo tudo isso, não é para cansar?
Eu ainda trabalhava, mas percebi que estavam chegando as limitações do envelhecimento.
E hoje, passado mais tempo, e com a velhice instalada, nem penso em emendar uma coisa na outra. Meu ritmo foi se adaptando às novas condições. Tenho que organizar as atividades, e eventuais compromissos, para que sobre tempo para o descanso.
E se antes o descanso noturno era suficiente, agora preciso de uma boa paradinha durante o dia.
Mas, depois do descanso, renovadas as energias, é hora de viver bem.
Sem pressa.
Uma coisa de cada vez.


Aqui, a entrevista.

Comentários

  1. Heloísa, não podemos fugir disso.

    A idade chega e nos pega aos poucos...

    Um dia temos isso , no outro, isso mais aquilo e certas limitações aparecem em nossas vidas. Mas, é a ordem natural das coisas!

    Importante é que temos a família, os maridos queridos ao nosso lado e eles também estão nessa fase. Assim, envelhecemos juntos...

    E , mesmo mais paradas, acredito que conseguimos fazer muita coisa ainda. Eu, por exemplo, cuidando de um guri de 12 anos, não dá pra enferrujar,rs

    Isso é maravilhoso! Agora mesmo, no almoço, estávamos falando que pretendemos ir à tarde à Feira do Livro com ele. Essa é uma tradição ,desde que ele tinha uns 2 aninhos sempre repetimos. Falei pra ele : Será que UM DIA tu vais lembrar de nós por causa dessa feira? Ele encheu os olhinhos de lágrimas, entendendo bem onde eu queria chegar...

    Mas pelo menos lembranças legais de nossas caminhadas e bota caminhadas que se faz numa feira!!!

    E tu também tens a Isadora quete movimenta quando está aí! Por isso, precisamos nos manter! bjs, tuuuuuuuuuudo de bom,adorei te ler! chica

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    1. Chica, leitora querida, sempre presente, e que me incentiva a continuar escrevendo.
      Com certeza, os netos têm um papel muito importante na manutenção do nosso vigor físico. E você, como avó-mãe, realmente não pode "enferrujar". Beijo.

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  2. Não sei se voce leu, mas eu achei interessante e copiei para enviar para você, que antigamente fazia mil coisas ao mesmo tempo e hoje faz duas mil.....bjs
    Berto

    Recebeu a poesia Bacharéis de saias?

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    1. Sério que você acha que hoje eu faço 2000?
      Adorei a poesia e é incrível que, pela referência a várias Bacharéis de Saia, tenha sido escrita no século XIX.
      Beijo.

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  3. Olá, querida Helô
    Depois dos 60 a vida vai se despedindo da gente com dores espalhadas ou similares... ainda bem que o coração não envelhece... Deus é sábio no que faz com a gente...
    Bm fraterno

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  4. Rosélia,
    Aos 60 ainda há bastante juventude.
    Beijo.

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  5. Oi mãe, lindo o texto, você sempre ensinando de forma brilhante. E, pelo final, também aprendendo! grande beijo e espero aprender e ajudar nessa caminhada, Pri

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  6. Heloísa, voltei pra te responder sobre os comentários. As respostas que colocamos nos nossos posts, as pessoas só veem, se voltam. Não recebemos nenhum aviso! bj, adorei ver o Berto dizer que fazes 2000 coisas,rs bjs e lindo dia!! chica

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  7. Muito lúcida essa reflexão, Helô! Eu também sou do "time" de fazer 500 coisas ao mesmo tempo, mas tem horas que sinto que já me canso. A sabedoria é aceitar e , como você escreveu, " é hora de viver bem , sem pressa. Uma coisa de cada vez".
    Obrigada pelo carinho ao Simples Assim.
    Bj,
    lylia

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  8. Texto bom, que pareceu-me sair de mim...rs
    Também ando assim, Heloísa, desacelerando. Em todos os meus anos de casada, depois dos filhos, tive empregada e agora resolvi ficar sozinha com marido. Mas moro em casa, tenho frente e fundos para limpar, lavanderia na parte de baixo, então tenho que ignorar muitas coisas e fazer aos poucos. Antes fazia tudo num dia só, agora faço por partes...Ainda tenho a limitação pelas dores nos joelhos, mas esqueço e vou em frente. É um serviço cansativo e igual, todos os dias. Mas a gente para um pouco, sai, se distrai e recomeça, a cada dia. Acho que a idade só pesa mesmo se perdemos a saúde. Com esta, damos conta de mil e uma coisas, basta ir num ritmo menor.
    Gosto demais da Marieta, acho-a uma mulher sensata, pé no chão.
    Beijo.

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    1. Oi, Helô,

      Que pena o primeiro comentário não ter entrado! Eu deveria ter averiguado, já que não é a primeira vez que um comentário meu não entra, não é? rsrs.
      Quanto ao assunto do post, eu havia dito que é bem assim mesmo, pois já vi muitos idosos, como o falecido escritor Jorge Amado, dizerem a mesma coisa, sobre as limitações físicas impostas pelo envelhecimento.
      Neste momento, porém, me ocorreu que não gosto nem de pensar nisso, porque me sinto precocemente envelhecida, se comparada à minha mãe, por exemplo, rsrs. Aos 80 ela não necessita de óculos para ler, já eu os uso desde os 23 anos. Ela também é muito ativa e tem um jeito de passar meio incólume, pelas tribulações. Acho que isso talvez explique fato de ela ter se poupado de muitos achaques típicos da idade madura. Também acho que isso prova que a despeito de o tempo nos cobrar um tributo, há pessoas que pagam uma taxa menor, rsrs.

      Um beijo e ótimo fim de semana

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  9. Una entrada fantástica.Sobre el papel todo esta claro: hay que en vejecer con dignidad, hay que ralentizar el ritmo, hay que descansar más que antes, pero yo digo: ¿Y eso como se hace? Yo soy súper activa y me gusta tener mis cosas en un orden perfecto, me gusta ver la casa perfecta, no tolero el desordén, ahora todo esto lo consigo, lo puedo lograr con mi esfuerzo, pero cuando fallen mis fuerzas ¿sabré sentirme bien con una casa desordenada, con una casa no tan ordenada como a mi me gustaría...sabré sentarme a descansar rodeada de todo eso? A esta pregunta sólo me contestará el paso del tiempo.Pero a fecha de hoy me preocupa.
    Beijos

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  10. Heloísa, seu texto trouxe-me grande alívio, já que tenho me cobrado muito por não mais conseguir fazer as 500 coisas que fazia, muitas delas ao mesmo tempo. Creio que as limitações que a velhice impõe, surgem de formas diferentes em cada indivíduo, e no meu caso, começaram a se manifestar mais cedo... Então, nada de comparações! Parei! Como disse você, vou tentar viver sem pressa, fazendo uma coisa de cada vez. Beijo!

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  11. Mais um texto gostoso de ler. Penso que a limitação física na velhice favorece mais à contemplação. Completei 41 anos em 17/novembro passado. Aliás, parabéns para você também Heloísa!!!! Sei que estou na chamada "meia idade", mas conforme o tempo passa, vejo-me cada vez mais contemplativa. Beijos!

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