Memória culinária







Aprendi a cozinhar em casa. Só de observar minha mãe, quando criança. Prestava atenção na elaboração dos pratos e, quando resolvi me aventurar na cozinha, vi como esse aprendizado havia sido importante.
Hoje, acho que isso dificilmente acontece.
As mães, de um modo geral, se encontram no mercado de trabalho, e as crianças têm seu dia ocupado com a escola e outros cursos.
Não existe mais aquela situação dos filhos rodeando a mãe, em casa, e observando suas atividades.
Ainda que mãe e filhos passem um período do dia juntos, e ainda que a mãe enfrente a cozinha para preparar uma refeição, provavelmente as crianças estarão distraídas com outras coisas, como jogos eletrônicos, computador, televisão. Penso que o apelo de tudo isso será muito maior do que o apelo para observar as tarefas domésticas, e aprendê-las.
É uma pena, pois o aprendizado em casa ocorre de uma forma absolutamente natural. E o que se observa muitas vezes, acaba ficando bem gravado na memória.
Pensei nisso tudo, ao preparar um rocambole.
Como não fazia rocambole há muito tempo, resolvi pesquisar uma receita pela internet. Todas as que encontrei, mandavam bater os ovos inteiros, ou seja, as claras com as gemas. E a quantidade de açúcar e de farinha de trigo era a mesma.
"Falei com meus botões" : não era assim que minha mãe fazia. Claras e gemas eram batidas separadamente, e a farinha de trigo entrava com uma colher a menos que o açúcar.
Daí a dúvida. 
Seria mesmo assim?
Resolvi, então, consultar o livro da Dona Benta, que era a Bíblia da culinária nos tempos passados.
E lá estava a receita, do jeito que eu lembrava.
Tudo esclarecido, parti para a execução. Com recheio de goiabada, ficou uma delícia.


                              Rocambole de goiabada



6 ovos
6 colheres (de sopa) de açúcar
5 colheres (de sopa) de farinha de trigo.

Bater as claras em neve. Juntar as gemas e bater bem.
Acrescentar o açúcar, continuando a bater.
Até aqui dá para usar a batedeira.
A farinha de trigo deve ser colocada colher a colher, e misturada levemente.

Colocar a massa em uma assadeira untada e enfarinhada, e levar ao forno pré-aquecido, numa temperatura média. Assa mais ou menos em 15/20 minutos (verificar com o palito).

Desenformar sobre um pano de prato polvilhado com açúcar, passar o recheio, e enrolar, com a ajuda do pano de prato, ainda quente.
O recheio pode ser goiabada pastosa, doce de leite, creme com gemas etc.
É muito gostoso, e não leva gordura.




Faltou dizer que naqueles tempos antigos, o rocambole também era chamado de gromelão. Pelo menos é uma lembrança que tenho, mas que não consegui confirmar em nenhum dicionário. Na sua superfície eram feitos arabescos queimando-se o açúcar com um espeto de ferro, ou talher, bem aquecido.
Gostaria de ter feito com esse enfeite, mas embora tenha isso bem gravado na memória, me faltou o necessário utensílio de ferro.



Comentários

  1. D.Benta é maravilhosa! Sabes que meu sobrinho que casou agora, comprou um livro dela? Vale mesmo, tudo fácil, bem explicado e simples!!! beijos,adoro te ler sempre!!chica

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  2. Que delícia, Heloísa. Sabe que não me arrisco muito na cozinha, fico só no trivial mesmo.
    Aprendi também com minha mãe, ela era exímia na cozinha, mas também não arriscava coisas diferentes demais, eram muitos filhos, mal acabava o almoço já tinha que ver o que vinha para o jantar.
    Mas os melhores bolinhos de chuva foram os dela, a melhor torta de frango foi a dela, fazia bolinhos de feijão como nenhuma baiana (rsrs), enfim, pena que não passou para mim seu gosto pra cozinhar. rsrs
    Vou arriscar num rocambole salgado, peguei a receita ontem num blog.
    Mas este parece delicioso e gosto mesmo é com goiabada.
    Beijo!

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  3. amei a lição de culinária e bolinho ficou lindo!

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  4. Gostaria de saber como posso encomendar um rocambole desses para mim. Moro um pouco distante e pediria que mandasse pelo correio sedex 20.
    Penso que não deve custar caro. Favor informar, inclusive a remessa.Desde já obrigado. a) Bertino

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  5. Hahaha, eu ia fazer meu comentário, mas quando li o desse Anônimo acima tive que rir. Acho que vou entrar na dele também e pedir para que envie um assim mesmo, com esse recheio maravilhoso aqui para Niterói.
    Espero com água na boca.
    um beijo grande, carioca

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  6. Helô, querida, bom dia!

    É verdade: hoje é muito mais difícil ensinar os filhos a executar as tarefas do dia-a-dia, por causa dos compromissos educacionais deles e dos apelos externos. Aqui em casa mesmo a coisa tem sido árdua, rsrs.
    Por outro lado, eu acho que nós brasileiros tendemos a não ter pulso forte nesta área, rsrs. Conheci pelo menos duas famílias estrangeiras que sabia bem como preparar os filhos para as exigências práticas da vida, rsrs.
    Quanto ao rocambole, eu acho que feito assim, com as claras em separado, ele fica mais fofo e mais estável. A quantidade de açúcar pode variar, de acordo com a quantidade de ovos, mas no geral eu também faço com menos açúcar do que farinha, rsrs. Lá no meu blog tem uma receita de rocambole festivo, que é assado já com o recheio e é muito bom! rsrs.

    Beijoca e bom dia!

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  7. Ainda conzinho todos os dias para minha família, mas, o que você disse é verdade, pois minha filha de 19 anos não quer saber de conzinha. Ela não olha quando estou fazendo comida. Vive no mundo do computador e isso me chateia um pouco pois pensava que ela ia fazer o que eu fazia, aprendia olhando a minha mãe.
    Me faça uma visita:http://detalhesdeumlar.blogspot.com.br/ beijos, Deus te abençoe.

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  8. Helô, a gente aprende mais vendo fazer, é verdade, mas tive uma vida mais dedicada aos estudos e não ajudava muito na cozinha. O trabalho junto com faculdade me deixavam fora de casa quase 15 horas por dia, incluindo os longos deslocamentos. Estágio só nos finais de semana e feriados.
    Passei a cozinhar depois de casada, mas a memória de como fazer a gente guarda da mãe.
    Bom final de semana!

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  9. Heloísa,
    como é gostoso acessar o seu blog.Ainda mais que nossas lembranças e receitas t~em muito em comum. obrigada por mais essa receita
    Cecília

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  10. Desde criança não acompanho minha mãe na cozinha porque ela sempre trabalhou fora, mas o pouquinho que vi minhas avós e mães das minhas amigas, que eram donas de casa, fizeram mta diferença; pois hoje tento resgatar mto do que aprendi daqueles poucos momentos. É verdade Heloisa: a forma que se prepara as coisas é fundamental para se obter um bom resultado. Tenho certeza que com todo esse cuidado e carinho, o gromelão ficou delicioso. Há tempos que você não faz postagem - está tudo bem? Beijos, Paula

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