Cidade acessível?




Faltam poucos dias para o aniversário de um ano do tombo que me deixou sem andar por quase dois meses.
Tombo que aconteceu na rua, por desnível do calçamento, e colaboração de sapato inadequado.

Depois dessa queda, fui tomada pela insegurança de caminhar pelas calçadas. 
Até procuro fazer um programa de auto-convencimento, mas está difícil enfrentar os riscos de ruas com calçamento precário.
E com isso, tenho caminhado raramente.
Mas nessa semana, depois de um dia com muita escrita, e muito tempo na frente do computador, senti a necessidade de andar bastante. A tarde estava linda, com muito sol, quase se pondo. 
Com coragem, fui para a rua. 
Na faixa do semáforo, atravessei as duas vias da avenida da praia, exatamente nessa faixa que aparece na foto abaixo. 



Minha idéia era andar pela calçada que margeia a praia, e para isso é preciso atravessar a ciclovia, com suas duas mãos e depois, os jardins.



Olhei para um lado, e para o outro, onde o por-do-sol estava lindo. E dei o primeiro passo para atravessar. 
Ou será que só levantei o pé, para iniciar o primeiro passo? 
Nessa hora escutei um grito, interrompi meu movimento, e vi uma bicicleta passar em disparada, quase grudada a mim. Seu condutor falou alguma coisa, que não entendi.
Foi tudo muito rápido mas, ainda assim, deu tempo de pensar na fatalidade de estar sendo atropelada. Não, felizmente não estava.
Com certeza, meu anjo da guarda sempre atento, e o senhor que me alertou com um grito na hora certa, evitaram o acidente por segundos.
Concluí que não havia visto o perigo porque ao olhar para um lado, e para o outro, minha visão ficara ofuscada com a luminosidade forte do poente.
Respirei aliviada, agradeci e retomei a caminhada.
Na volta, resolvi pegar a calçada da avenida, andando e olhando o chão com muita atenção.
Até que cheguei na esquina movimentada, próxima da minha casa, onde existe um semáforo para os carros e sinal para os pedestres.
O sinal abria para os carros que vinham de um lado, o sinal abria para os carros que vinham do outro. Bastante tempo. 
Novamente acendia liberando os carros para um lado, liberando para o outro.
E o sinal para pedestres?
Nada.
As pessoas que aguardavam, como eu, passaram a atravessar a rua com o sinal fechado. Eram jovens. Em caso de surgir algum carro, teriam como correr.
Eu, firme, aguardando meu sinal ficar verde.
Nessa hora, parou ao meu lado uma moça e comentei a situação com ela. Com simpatia, ela disse que esperaria o sinal comigo, porque ele abria por muito pouco tempo. Segurou no meu braço e, assim, consegui atravessar a rua sem riscos.
Fomos seguindo e conversando.
E eu, agora, pensando.
Santos é uma cidade plana, com jardins na praia lindos e perfeitos para caminhadas. Com um mar maravilhoso, para ser olhado e admirado.
É considerada uma das melhores cidades, do país, para os idosos viverem. 




Mas é evidente que alguma política pública precisa ser adotada para que os idosos possam, realmente, viver bem.
Os calçamentos das ruas precisam ser melhor cuidados.
A ciclovia precisa ter a velocidade regulamentada. Embora não seja uma ciclovia unicamente de lazer, recebendo  em alguns horários trabalhadores com pressa de chegar ao trabalho, ou voltar para casa, é preciso encontrar uma forma para que ela não represente um risco aos pedestres.
Os semáforos precisam passar por adequação. Sabe-se que eles privilegiam os carros, contudo tem que haver um tempo mínimo para que se possa cruzar uma rua ou avenida. E esse tempo deve ser calculado tendo em vista um idoso, para que fique garantida sua travessia com calma.

Afinal, a cidade é das pessoas, ou dos carros e bicicletas?
E Santos é, ou não, a melhor cidade brasileira para envelhecer?



Santos, melhor cidade para envelhecer. Clique aqui e aqui.

Foto inicial de Santos, daqui.

Foto da avenida da praia e das ciclovias. Web, sem autoria definida.


Comentários

  1. Acabei de ler ... Fotos lindas, mas que susto! Ainda bem que apareceu alguém na volta para atravessar com você...

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  2. Se me permite, faço minhas TODAS as suas palavras! Já passei pelos exatos mesmos problemas, bicicletas velozes e erráticas inclusive. Ruas mal calçadas. Tombos homéricos.
    Tentei postar esse texto no fcb, deu “tente mais tarde”.
    Seria possivel enviar o texto para o portal da prefeitura?
    Tenho uma amiga q diz q nunca caiu tanto na rua como aqui em Santos. Agora anda só de carro.
    Sendo q um dos grandes prazeres dessa cidade é andar por suas ruas ...
    Uma pena!

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  3. Heloisa, que bom que escapaste e foi só susto.Teu anjo trabalhou bem! E realmente as cidades parecem nao estar preparadas ou a população nao respeita...
    Uma pena e cabe a nós cuidar e mais cuidar! Bjs e tudo de bom, chica

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  4. Pois é, há que se providenciar semáforos para as travessias das ciclovias para que sejamos protegidos quando pretendermos atravessa-la. É muito perigoso diante da velocidade que os ciclistas trafegam, principalmente em se considerando que as pessoas de mais idade andam devagar porque não têm pressa de chagar....KKKK. Isso deu música e das boas. Mas tenho certeza que Helo supera essa apreensão de andar na praia de Santos. Mais uma vez surpreende a sua escrita e as fotos. Bertino.

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  5. Nossa, que susto! E relato e observações importantíssimas para o Poder Público participar!

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  6. Muito bem dito, amiga. Todo o cuidado é pouco com as pessoas e acho uma falta de respeito os semáforos com tão pouco tempo para os pedestres. Há que pensar em todos.
    As fotos são lindas!
    Bjn
    Márcia

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  7. Olá, Helô,

    Pelas fotos dá para ver que Santos é uma linda cidade e é realmente uma pena que ela não facilite as caminhadas dos idosos. Mas, pelo que sei das cidades brasileiras, elas tampouco favorecem a caminhada dos mais jovens. Por isso tudo achei as suas observações válidas e úteis, penso que você devia encaminhas estas observações às pessoas que tenham alguma possibilidade de fazer algo para melhorar esta questão.

    Um beijo

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  8. Perfeita análise! Uma cidade linda e com problemas graves de circulação pela falta de manutenção de calçadas e semáforos que não contemplam as necessidades de pedestres. Ou seja, faltam as tais políticas humanistas que são o diferencial em muitas cidades europeias. Eu encontro dificuldades -no meu trajeto habitual - para atravessar várias faixas da av Ana Costa e da rua Carvalho de Mendonça. Mesmo em faixas vivas, nessa última via, os carros não respeitam e passam em velocidade. E neca de fiscalização.!!Já na av .Ana Costa não há coordenação no verde do semáforo. Abre para pedestre numa pista e na outra fica fechado. E o povo se arrscando junto à ciclovia. Quando (em seu bem elaborado texto)vc questiona se Santos está adequada para a tão decantada qualidade de vida aos idosos, eu tenho que dizer NÃO. Há muito a ser melhorado na questão de segurança, acessibilidade e conservação do calçamento (desnivelado, esburacado e sem padrão) .Adorei o texto.bjs.

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  9. Perfeita análise! Uma cidade linda e com problemas graves de circulação pela falta de manutenção de calçadas e semáforos que não contemplam as necessidades de pedestres. Ou seja, faltam as tais políticas humanistas que são o diferencial em muitas cidades europeias. Eu encontro dificuldades -no meu trajeto habitual - para atravessar várias faixas da av Ana Costa e da rua Carvalho de Mendonça. Mesmo em faixas vivas, nessa última via, os carros não respeitam e passam em velocidade. E neca de fiscalização.!!Já na av .Ana Costa não há coordenação no verde do semáforo. Abre para pedestre numa pista e na outra fica fechado. E o povo se arrscando junto à ciclovia. Quando (em seu bem elaborado texto)vc questiona se Santos está adequada para a tão decantada qualidade de vida aos idosos, eu tenho que dizer NÃO. Há muito a ser melhorado na questão de segurança, acessibilidade e conservação do calçamento (desnivelado, esburacado e sem padrão) .Adorei o texto.bjs.

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  10. bom dia heloísa, vim conhecer o seu blog. o meu tb acabou mudando o nome, tinha o 007, mas o 007 raramente vinha escrever. no endereço ainda tem ele, mas no nome não mais. e vai mudando mesmo não é? o meu sempre foi cultural, mas está diferente em alguns detalhes. sem falar no quanto a tecnologia melhorou. e vou ler em detalhes essa postagem. é um tema fundamental e do meu interesse, deveria ser do interesse da maioria que dirá dos governantes. sempre sou crítica a cidade que não tem proteção as pessoas. aqui tb falo que o pedestre vem primeiro. com essa moda de que bicicleta é o veículo do futuro, eu penso, futuro pra quem? conheço várias pessoas que não podem andar de bicicletas pelos motivos mais variáveis. mas andar a pé a maioria pode, até cadeirante. em são paulo essas questões são mais pressionadas, mas isso nos bairros de maior poder aquisitivo. é só ir na periferia aqui pra ver que raramente há calçadas, faróis pra pedestre esquece. muito triste. foi muito bom rever as lindas fotos da cidade maravilhosa, faz tempo que não vou pra aí. e que chato que estará assim no aniversário, mas será bom de qualquer jeito. beijos, pedrita http://mataharie007.blogspot.com/

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  11. Que depoimento Heloísa! Morro de medo das faixas para bikes, sei que são necessárias, deve ser incentivado o uso delas, mas a realidade para os idosos é complicado...SE já não pensam nos jovens, imagine nos mais idosos. Muita vezes atravesso fora da faixa por confiar mais em mim do que nos motoristas que nem sempre respeitam o farol e o tempo de travessia., pode demorar um pouco, mas penso correr menos risco, pelo menos em locais de menos fluxo.
    Fiquei aqui lendo e imaginando o desafio que se passava em sua cabeça para a travessar, me sinto exatamente assim. Um degrau é nada para quem pode transpô-lo.
    Abração e obrigada pelo carinho da leitura.

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