Passado ou futuro?
É um hábito que trago desde a infância, e que já foi muito valorizado e intenso.
Até pouco tempo, eu lia dois jornais inteirinhos. Costumava dizer que até os editais de casamento, publicados pelo jornal local, eram objeto da minha leitura.
De repente, a leitura passou a ser quase uma tortura. Notícias péssimas, fatos distorcidos, jornais sem compromisso com a verdade.
Cortamos a assinatura de um jornal de grande circulação, e mantivemos somente o jornal local, que passou a receber uma leitura superficial. Só para termos noção dos “rumos” e acontecimentos da nossa cidade.
Hoje cedo, uma chamada de primeira página, acompanhada por foto do cantor, assinalou que:
“Djavan lança, em Santos, a turnê Vesúvio”.
Li em voz alta, comentando com o Berto que, pela foto, tinha dificuldade em imaginar a idade do Djavan.
Então, ele me perguntou: quando ele lançou a turnê?
Essa é uma questão que só posso responder depois de ler a matéria, disse eu.
Tanto já pode ter ocorrido, como ainda acontecerá.
O título usa o presente: Djavan lança. Não dá para saber, quando.
Acho meio absurdo esse uso dos tempos verbais. No meu tempo de escola, conjugávamos os verbos em todos os modos e tempos.
Havia o tempo presente, o passado e o futuro. Depois o passado passou a ser chamado de pretérito. Mas continuávamos a nos referir às ações cometidas no passado, às que seriam cometidas no futuro, ou a aquelas que estavam sendo realizadas no momento presente.
E, ainda, nos referíamos às ações que poderiam, ou não, acontecer. Eram condicionais.
De repente, acho que por orientação dos veículos de comunicação, tudo mudou. Parece que tudo virou uma coisa só.
E é evidente que essa forma de escrever não ficou restrita aos jornais e revistas. Saiu das redações e foi se espalhando nocivamente.
Usa-se o tempo presente, para indicar ato já realizado, ou ato que ainda será realizado. Ou ato que está acontecendo.
Quem se limitar à leitura dos títulos, vai continuar desinformado.
E agora?
Diz o jornal que Djavan lança, em Santos, a turnê nacional Vesúvio.
O que isso significa?
O Djavan já lançou sua nova turnê?
Ou ainda irá lançar?
Folheei o jornal e confirmei: Djavan lançará a turnê no próximo dia 22, sexta-feira, em Santos.
Será que só eu cismo com isso?
As notícias estão mesmo terríveis e mesmo as normais, faltas um redator final para tudo revisar, como era antigamente. Largam notícias assim no mais, sirvam-se delas quem quiserem... Basta que vendam jornais! Pena!
ResponderExcluirLinda semana e tomara com boas leituras e manchetes nos tempos verbais bem escolhidos e colocados!
beijos, chica
eu tenho o péssimo hábito de ler jornais atrasados. recebo dois em casa. beijos, pedrita
ResponderExcluirNós também cancelamos as nossas assinaturas de jornais (inclusive online) e revistas. A mídia - de modo geral - tornou-se uma máquina de massacrar qualquer possibilidade de boa disposição da gente, um absurdo que não dá para entender.
ResponderExcluirE a linguagem da mídia - digamos - se adequou aos seus novos significados.
Beijo
E a evolução da língua, amiga. Por aqui também se utiliza o presente para expressar uma ideia futura ( por ex. amanhã vou para a escola), embora seja mais na oralidade. Na escrita, e pelo menos nas escolas, os tempos verbais continuam a ser ensinados e de uso obrigatório.
ResponderExcluirBjn
Márcia
Acontece muito mesmo, pelo menos nas mídias virtuais acontece muito e nem dá para saber se é erro ou efeito corretor...
ResponderExcluirNunca assinei jornal, mas comprava de vez em quando, assinei Veja, ops, Lixo, por muito tempo, aprendi a odiar a linha editorial dela assim, lendo.
Saudade dos tempos que era menina e o caderno infantil dos jornais aos domingos era um prazer, hoje muito enjoo.
Abraço!