Aurora da minha vida








Agendei uma consulta médica em São Paulo e, ao receber informação sobre o endereço, mergulhei no passado.
O consultório está localizado na rua onde vivi dos 8 aos 13 anos.

“Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida …”

Numa “perua" - station wagon - seguimos de Santos para São Paulo, em 14 de fevereiro de 1946, pela Rodovia Caminho do Mar, a Estrada Velha de Santos. 
Na ocasião, éramos 9: meus pais e seus então 7 filhos. O mais velho quase completando 13 anos e a caçula com pouco mais de 2 anos.
Dessa viagem, que deve ter sido uma aventura, lembro pouco. 
Gravei o dia da mudança, alguns detalhes do carro que nos levou e alguns aspectos do caminho. Na minha lembrança também ficou o nome Estrada do Vergueiro, que talvez servisse para nomear a Estrada do Mar, ou só sua parte final.
Deixamos Santos para trás, com nossos amigos e parentes. Nossa escola e nossos colegas.
Seguimos para uma nova vida na cidade de São Paulo, “São Paulo da garoa, São Paulo que terra boa”.
Meu pai que sempre trabalhara em Santos, havia se transferido há algum tempo para a capital, viajando diariamente de trem, pela Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, antiga São Paulo Railway.
Tendo fixado seu trabalho em Sao Paulo, resolveu que seria melhor transferir a residência para a cidade.
Alugou uma casa que acomodasse sua grande família, e lá fomos nós para a casa número 346, da Rua Eça de Queirós, na Vila Mariana.
E há alguns dias, seguindo para um consultório médico na Rua Eça de Queirós, passei na frente da “minha” casa. 
68 anos se passaram, desde que a deixei. 
E ela lá está, firme, bonita, resistente, rodeada por prédios.
Emoção e lembranças.
O frio de São Paulo, a neblina, a garoa. 
Os carros com som, que passavam  logo cedo anunciando e vendendo “figos, figos de Valinhos”.
As escolas novas. Assim que chegamos, minha mãe passou a procurar escolas próximas para os cinco mais velhos.
As brincadeiras no quintal.
As brincadeiras na rua, com amigos da vizinhança.
A vendinha da esquina, que tinha pedaços de côco fresco mergulhados em água.
Depois, o nascimento de mais uma menina, em 1948, e a volta para Santos em fevereiro de 1951, logo marcada pela chegada de mais um menino, em março de 1951.
Família completa.
Na ocasião, éramos 11. E assim ficamos por bastante tempo.


Foto tirada no dia 18/06/2019. Quando lá vivi, a casa era branca, com janelas azuis.
Referência à poesia Meus oito anos, Casimiro de Abreu.
Referência à música "Êh São Paulo", de Alvarenga e Ranchinho."

Comentários

  1. Casa forte e resistente como a família. Incrível mesmo estar lá "firme e forte" até hoje, trazendo essa muito interessante lembrança e passeio nesse tempo que segue em você...

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  2. tb costumo mergulhar em lembranças. é muito bom ter boas lembranças pra recordar. beijos, pedrita

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  3. Há alguns anos fui até a Eça de Queiros para rever a casa. Branca de janelas azuis, abrigava escritório, se não me engano de publicidade. Agora, parece que voltou a ser residencial.
    Linda casa!
    ...se as paredes falassem...

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  4. Marcante essa casa em tua vida e que bom mergulhar novamente nessa poesia e viagem que ficou pra sempre em tua memória e na certa, na de todos vocês. Lindo de ler! beijos, tudo de bom,chica

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  5. Maria Cecília Paixãoquinta-feira, 11 julho, 2019

    Quanta emoção! E q casa linda, a cara da família. Agora começo a lembrar das suas outras casas. Azevedo Sodré, Pe. Visconti, Cons. Nébias. Sempre animadas e cheias de vida. Boas recordações.

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  6. Amei. Lembranças maravilhosas ao lado de vocês. Lembro muito desta casa de São Paulo.

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  7. Incrível, Heloisa!
    E a casa resiste, bela e altaneira!
    Que delícia de infância deve ter sido a sua e a de seus irmãos ...

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  8. Lindas lembranças!

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  9. Que lindo !!! Uma delícia rever ao vivo e poder viajar nas recordações maravilhosas que ficaram !!! E casa, forte e resistente com a família de vocês !!! Beijo carinhoso, Helô !!! 😘

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  10. Viajei na sensibilidade de suas memórias, incrível o casarão ter sobrevivido nesta região tão valorizada, e está lindo por sinal, que continue assim!
    Lendo lembrei de Éramos seis...vocês eram em 11...belas memórias!!
    Abração!

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  11. Doces recordações! Foi sem dúvida um período muito bom para toda família.. Todos eram crianças, muito espaço para as brincadeiras numa casa sólida e ao mesmo tempo aconchegante. Foi um lindo reencontro com o passado. Pura emoção! Nesses dias conturbados, um ótimo presente para a alma, não é?

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  12. Olá querida Heloísa, td bem?
    São essas histórias que contam as nossas vidas, a rua em que moramos quando criança, as brincadeiras da juventude, os primeiros amores, etc. Muito legal essa coincidência e que bom que vc pôde matar um pouco das saudades de tempos felizes!
    Bjos

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