Politicamente correta?






Com frequência vemos referências à linguagem politicamente correta.
E parece que, cada vez mais, tenta-se dissociar a palavra da sua concretitude, para dar uma aparência de melhor situação.
O velho, que é quem já viveu bastante, não pode ser chamado de velho, mas sim de alguém que está na melhor idade, ou na terceira idade. Na verdade, ele continua a ser velho mas, por uma assepsia na denominação, ele está na melhor idade.
Não se pode mais fazer referência a alguém usando-se a palavra gordo. Politicamente correta, a referência deve ser a de alguém com excesso de peso.
Anão é o portador de nanismo, e deficiente físico deve ser denominado de pessoa com deficiência.
Negro é afrodescendente, ainda que haja brancos de origem africana.
Não é difícil perceber que o distanciamento da realidade, adotado pelos termos politicamente corretos, acabam levando ao ridículo.
Essa política, importada dos Estados Unidos, pretende evitar preconceitos em relação a certas pessoas ou a grupos minoritários.
Acontece que o problema da discriminação, ou do preconceito, não está na linguagem. Está nos indivíduos.
E não é o fato de se usar palavras consideradas politicamente corretas que estará eliminando o preconceito. A palavra isolada não permite uma apreciação social. É avaliada de acordo com a forma pela qual é dita, ou dentro de um contexto.
Assim, se alguém se refere a um negro com desdém, estará manifestando preconceito.
Da mesma forma, quem chama alguém de velho, querendo significar que tal pessoa não serve para nada, e não deve ser levada em consideração, estará mostrando discriminação. E isso, não em virtude do vocábulo, mas da inflexão que foi dada à palavra.
Nesses últimos dias tomei ciência de outra palavra politicamente correta: colaborador, para ser usado no lugar de empregado, ou funcionário, evitando, assim, uma conotação de subordinação.
Achei, isso, ridículo. A subordinação continua, pois ela é implícita ao conceito de emprego. Muda somente a palavra, esvaziada do seu real conceito, o que mostra a falsidade da linguagem politicamente correta.
Não seria mais adequado dar-se ênfase ao uso da linguagem com bom senso e com respeito ao próximo?



Comentários

  1. Seria. O mesmo se pode dizer das mudanças nas cantigas, como atirei o pau no gato, ou boi da cara preta e outras, tudo de uma falsidade tão besta! E diga-se, quem esta velho nao esta na MELHOR idade, isso nao mesmo, e tambem os empregados não sao colaboradores, são empregados, se tratados com respeito, serão otimos empregados, se tratados com desrespeito serao pessimos "colaboradores"!

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  2. Tudo neste mundo está muito mudado, ou somos menos tolerantes com as babaquices, né, Heloísa?
    O respeito é fundamental, basta usá-lo e pronto.
    O que se diz, como se chama quem ou o quê, é secundário.
    Ótimo texto.
    Beijo!

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  3. Com certeza! Em alguns casos chega a ser patético - e/ou parecem piada.
    beijos,
    Pri

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  4. Minha querida Heoísa,
    Tô contigo e não abro!
    Esta expressão é a mais enfatizante que pensei para dizer que acho os dias de hoje um saquinho, uma chatura, bem como você disse de uma falsidade enorme, pois até o encantador escritor dos nossos tempos, Monteiro Lobato, foi tachado de preconceituoso, que bobagem!
    A coisa está tão chata e a gente tem que estar o tempo todo se policiando para não 'melindrar' um ou outro que, um amigo de meu marido que estava noutro dia na padaria, disse que olhava o doce que ele queria levar exposto na vitrine, mas não tinha coragem de pedir em voz alta, pois o doce era o famoso 'nega maluca' e ele olhava para um lado e outro e tinha vergonha de pedir com este nome ao balconista que era negro.
    Aí ele disse ao meu marido que para não melindrar ninguém achou melhor apontar o que queria, senão teria que pedir no corretamente político atual, ou seja: "Por favor, me dá um desses moça afro-descendente com problemas mentais". Quando ele nos contou isso foi uma risada só, mas só falta isso qualquer dia, né mesmo?
    Excelente post, adorei!
    beijos cariocas

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  5. Perfeita tua colocação e RESPEITO é o melhor caminho sempre. Já em casa( uma mala ainda n~]ao chegous,rs,coisas dos nossos voos lotados) tentando iniciar...beijos,chica e tudo de bom!

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  6. Helô,

    A tal linguagem politicamente correta é uma grande bobagem! rsrs.
    É pelas razões que você citou (e outras!) que muitos a odeiam, rsrs.

    Beijo e boa noite

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  7. Vivemos num mundo hipócrita Heloísa, infelizmente é assim :)

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  8. Diego Pereira disse:

    A terminologia pouco importa, pois não é com o ouvido que se sente a rejeição: é com o coração.

    Abraços.

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  9. Olha, eu não poderia concordar MAIS contigo...

    acho ridículo o emprego de novas palavras em velhos preconceitos. Nada muda, quando vc diz negro com preconceito ou afrodescendente com preconceito. Não muda nada!

    Colaborador é horroroso e a empresa para qual trabalho começou a nos chamar assim... o que só gera mais decepção, pois mudam a palavra, mas não a forma com que nos tratam. Eu sou uma funcionária e ponto. Não sou colaboradora.

    Adorei o texto.

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