Palitos vilões?

Serão vilões, os palitos de dentes?

De um lado os cirurgiões-dentistas, dizendo que eles não servem para higiene bucal, e que podem causar danos às gengivas.

De outro, a etiqueta social, afirmando em críticas ácidas que é deselegante usar palitos à mesa.

Um e outro podem ter razão relativa. 

Mas, como resolver um problema momentâneo, mais que um problema, uma aflição por ter ficado com uma partícula de alimento entre os dentes, durante um jantar muitas vezes cerimonioso?

Dependendo do prato servido, não é difícil que um pedaço de carne, ou até um resquício de folha, fiquem presos entre os dentes. E parece que as folhas sempre escolhem se localizar nos dentes da frente.

Além do desconforto, a preocupação. 

E agora, posso sorrir?

Penso que esse problema ocorre mais com aqueles entrados na velhice. Escrevo pensando neles, e em mim.
Os jovens, com certeza, não têm condições de avaliar, em sua inteireza, essa situação desagradável. 

Com a idade, muitas são as alterações físicas, e entre elas o aumento do espaço entre os dentes. Pronto. Tudo propício para que restinhos de alimento se alojem onde não deveriam.

E é nessa hora que o palito se mostra útil. 
Usado discretamente, com delicadeza e rapidez, serve para afastar o desconforto, e trazer alívio. 

E, ainda, para garantir que se pode sorrir.

Na primeira oportunidade, os dentes receberão a higiene que merecem, com fios ou fitas dentais, escova interdental, bitufo, escovas de cerdas macias. Ninguém achará que o uso do palito vai substituir a limpeza necessária.

É o que se pode dizer aos dentistas. E, ainda, que usado suavemente, o palito não trará riscos à gengiva. Servirá, somente, para retirar resíduos superficiais.

Para a etiqueta social, a informação de que o uso do palito se dará dentro do bom-senso, que deve ser sua principal regra. E voltado para a utilidade, que representa. Terá uso discreto e, quem sabe, até com um gesto gracioso da mão, garantindo a elegância e sobretudo o conforto.

Dizem também os dentistas, secundados pela etiqueta social, embora por motivos diversos, que no caso de partículas entre os dentes o melhor é sair por instantes da mesa e ir até o lavabo, para usar o fio-dental que deve ter sido levado numa bolsa, ou bolso.

Perfeito. É uma boa solução, sempre que possível.

Contudo, para muitos idosos, impraticável.
É o caso daquele idoso que tem alguma dificuldade de locomoção, está confortavelmente sentado e, por conta de uma partícula de alimento, tem que se levantar em busca de um lavabo. 
E, outra. Ele não pode esquecer de, ao sair de casa, pegar seu estojinho de fio dental.

Ora, está na hora de simplificar e rever regras. 
É evidente que ninguém vai sair, por aí, palitando os dentes a torto e direito, só porque o palito voltou a ter "status" do passado quando, entre os nobres, era feito de prata ou marfim.

Estamos vivendo muito, e adaptações são necessárias para que a velhice seja mais leve.

Que tal arranjar um cantinho nas mesas para colocar aquele paliteiro que tem servido de enfeite?
E que tal olhar com compreensão e carinho as necessidades dos velhinhos?