Velhice sem pressa

Com esse título não estou querendo dizer que ninguém deve ter pressa para chegar à velhice. Mesmo porque acho que deve ser muito difícil encontrar alguém que queira que o tempo passe depressa, para logo chegar à velhice.

O que na verdade estou querendo dizer com "Velhice sem pressa" é que a pressa não combina com a velhice.

Para vivermos com riscos diminuídos, não podemos ter pressa.

Está dentro de um carro, chegou ao seu destino e vai precisar sair dele? Saia com calma. Sem pressa. Coloque os dois pés no chão, fique ereto. Agora sim. Está pronto para começar a caminhar, sem pressa.

Vai subir, ou descer, uma escada? O corrimão existe para ajudar. Segure nele e desça, ou suba, sem pressa. Você chegará sem correr riscos desnecessários.

Está terminando o banho e não quer atrasar para um compromisso? E, numa falha da memória, você esquece da sua idade e, como se jovem fosse, resolve apressar a saída do banho, para ganhar tempo?Esquece até das barras de segurança, caso as tenha no box, sai apressado. Escorrega no chão molhado e ...

Sim, poderia ter caído. Poderia ter se machucado bastante.

Na velhice, aquela história de "vou tomar um banho rapidinho e já saio" dificilmente acontece. A pressa não combina com a velhice.

Acordou e está na hora de levantar? Não, você não pode colocar os pés no chão e sair andando de imediato. Vire de lado, sente-se apoiando os pés no chão e espere um tempinho. Agora sim. Sem pressa, você pode sair andando.

Vai atravessar uma rua ou avenida? Procure a faixa de segurança, espere que o semáforo fique favorável para os pedestres e, daí, vá no seu ritmo. Sem pressa. Ainda que o sinal mude, você pode continuar no seu ritmo. Nem pense em correr ou apertar o passo.

A questão mais difícil é nas travessias sem sinal luminoso. Caso haja uma faixa de pedestre, calcule, dentro do possível, a distância entre você e os carros. Estique o braço e balance, algumas vezes, para que vejam que você está atravessando a rua. Pode ser que você tenha sorte e que os motoristas parem para que você atravesse. Normalmente, alguém mais atento para, mas o outro veículo passa sem ver a faixa e o idoso. Por isso, não se deve atravessar sem a certeza de que todos os veículos estão diminuindo a marcha, e parando. 

E também há a questão das motos, sempre na velocidade. Na maior parte das vezes elas passam  sem perceber nada. O cuidado com elas deve ser dobrado. O melhor, mesmo, é fugir delas.

Jamais pode-se pensar que, andando depressa, vai dar para atravessar. Não é comportamento recomendável para ninguém, em qualquer idade, e muito menos para os idosos.

Contudo, para se perceber tudo isso, só mesmo quando se está vivenciando a velhice.

Não a velhice dos recém-chegados a ela, os sessentões que estão dando os primeiros passos na vida com limites, e que pouco a pouco irão perceber e se adaptar às mudanças. Até que um dia, sem traumas ou sustos, vão ter a certeza de que velhice não combina com pressa.