Pode falar?




Em tempos em que a comunicação à distância é extremamente avançada, contraditoriamente ela se realiza, muitas vezes, com cuidados excessivos para evitar desconfortos.
Há muitos anos, ligações telefônicas entre cidades  levavam horas para se completar. Havia a intermediação de uma telefonista que, ao receber o pedido de uma ligação interurbana, avisava o número de horas de espera pela ligação. 
Com o progresso da tecnologia, vieram as ligações diretas. Já se conseguia, embora com custo alto, chamar-se instantaneamente alguém em outra cidade ou país, unicamente com o uso do teclado.
Era uma alegria completar uma ligação, sem qualquer dificuldade, e poder ouvir a voz de alguém que estava distante.
Com a internet, a evolução atingiu algo até então inimaginável. Ligações sem custo, conversas instantâneas com pessoas em qualquer distância, podendo-se não só ouvir a voz, como ver-se a imagem. Alegria dobrada.
Mas, no dia a dia, sinto que a comunicação perdeu muito daquela sensação de proximidade que uma simples ligação telefônica nos proporcionava. 
Notícias boas, planos, expectativas, eram transmitidos para os amigos pelo telefone. Eram ligações inesperadas, que se transformavam em boas conversas. Tudo com naturalidade.
Hoje, isso dificilmente acontece.
A maioria das pessoas, ainda que tenha algo muito bom para contar para um amigo, ou que queira simplesmente conversar um pouco, antes de telefonar manda uma mensagem perguntando se pode ligar.
Tudo para evitar possíveis desconfortos. A pessoa pode estar ocupada, ou pode não estar com vontade de falar. 
Muitas vezes, com esse pedido de permissão para telefonar, a conversa acaba se realizando só com a troca de mensagens escritas, sem a proximidade gostosa das vozes.
Isso acontece, em parte porque a vida está muito corrida, mas sobretudo porque as redes sociais generalizaram a comunicação em massa. O comunicador quer contar algo para dezenas de pessoas, ao mesmo tempo. E entre essas dezenas de pessoas há amigos próximos, e outros nem tanto.
Apela, então, para as mensagens.
Reconheço a facilidade dessa comunicação instantânea.
Contudo, com esse novo comportamento, aquele telefonema surpresa, expressão de amizade, quase sumiu.
Mas, resisto.
Gosto de poder telefonar para amigos próximos, sem antes perguntar se posso. 
E gosto de ser surpreendida por telefonemas de amigos, para simplesmente conversar.



Sobre comunicação, veja o que já escrevi:



Comentários

  1. Olá, Helô,

    Sim, a comunicação à distância mudou um bocado. Porém, surgiram novos problemas, como você bem registra neste post. Acho que além das dificuldades relatadas há uma barreira nova, para a conversa e a troca de informações entre as pessoas: o fato de as conversas serem passíveis de vigilância. A comunicação via Internet segue um esquema que torna a privacidade entre os que dialogam extremamente vulnerável.

    Um beijo

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  2. Falaste muito bem! Cada vez menos o telefone convencional toca e quando acontece, são as ligações indesejadas das operadoras,rs... Esse fds mesmo ainda falei com minhas filhas sobre o celular e mensagens que aproximam, mas afastam. Antes, até elas, ao invés de visitar, passam mensagens e daí falamos. Parece que estamos todas juntas sempre, mas na verdade, tão bom quando o encontro ou o telefonema acontece, não apenas no WhatsApp.

    Adorei! bjs, chica

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  3. concordo, em geral qd pergunto se posso ligar a pessoa pede pra falar por ali mesmo. uma pena. acho ótimo poder falar com amigos fora do país. poder deixar um recado escrito em algum lugar. mas conversar, jogar conversa fora, é muito bom. sem falar no presencial. insubstituível. beijos, pedrita

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  4. Lindo post Heloísa, estava justamente pensando nisso esta semana vendo um post do FB sobre como eram as coisas antigamente...Lembrei dos telegramas, quem não tinha telefone mandava telegrama no aniversário de pessoas queridas, o preço era cobrado por palavras (ou seriam caracteres?).
    Parece que o tempo passava mesmo mais devagar, lia-se mais, encontrava-se mais, o futuro parecia tão distante e os ponteiros mais lentos...
    Novos tempos e vamos nos adaptando, a visita inesperada mesmo que pegasse a gente de casa bagunçada não incomodava, hoje já é evitável e acho bom neste sentido, mas tem um lado ruim, vamos adiando as visitas e a vida está passando, rapidamente.
    Adorei ler, abraço!

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