O ano em que não cortei o cabelo




O ano começou como todos os anteriores. Queima de fogos na praia, beijos e abraços, votos de realizações, boas expectativas e, até, alguns sonhos.

Veio janeiro, com seu calor abafado e úmido, veio fevereiro, com carnaval e início do ano escolar.

Chegou março, quando o ano iria dar seu arranque e caminhar no sentido das realizações.

De repente, as notícias vindas do exterior, a respeito das mortes causadas por vírus que atingira a China no final de 2019, passaram a repercutir seriamente entre nós.

Essas notícias já circulavam desde o início do ano, mas eram vistas como algo distante. Em fevereiro ficaram mais próximas, quando do repatriamento de brasileiros que viviam na cidade chinesa de Wuhan, primeiro local a sofrer os efeitos fatais do coronavírus. 

Os brasileiros residentes na China chegaram, e ficaram de quarentena em base aérea. 

No mais, parecia que tudo continuava dentro do usual. 

O problema era do outro lado do mundo. Era em outro hemisfério.

Estávamos em fevereiro. E os ecos do carnaval encobriam os noticiários alarmantes. 

Até que, coincidindo com o final do carnaval, começaram a surgir, entre nós, os primeiros casos importados, as centenas de casos suspeitos e, logo nos primeiros dias de março, a primeira transmissão interna da doença.

O problema também estava no nosso hemisfério. O problema estava entre nós.

Daí, começou o descontrole dos números, a procura das máscaras, do álcool gel, as primeiras mortes.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que estávamos diante de uma pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). 

Isso quase em meados de março. 

Tudo parou. Tudo mudou. Surgiu o medo, a tensão constante, a insegurança. A necessidade de isolamento social.

A partir de 13 de março, fiquei dentro de casa. Isolamento total.

Adaptação à nova situação. 

Tristeza, muita tristeza, pela velocidade da doença, pelo grande número de mortes, pelo sofrimento de muitos.

O tempo foi passando. 

E veio a classificação das cidades pelos riscos, número de contaminados, número de mortes. Do vermelho, passando pelo amarelo, até o verde. Nessa hora, para muitos, a liberação para circular como antes. Sem que o vírus se encontrasse dominado.

Mas isso não alterou meu estado. Dentro de casa, desde março.

E o ano, que começara como outro qualquer, está terminando. Com contágios, com mortes, com muita dor. Com muita insegurança.

Estamos em dezembro.

E meu cabelo, que há mais de 30 anos não ultrapassava o contorno do rosto, está chegando às costas.


Nota: Foto tirada em 17/11/2020. Não aparecem meus brancos, porque, praticamente, eles estão concentrados na frente.

Comentários

  1. Vc fez um relato preciso da tristeza da pandemia,mas faltou algo em seu texto ppmuito importante, que clareia esse universo cinza: como vc preencheu bem esses dias caseiros com suas produções artesanais, bolsas, bordados, jogos americanos, pratos gostosos, boas leituras e bons filmes. Tenho certeza q vc foi um bom exemplo de como se ocupar de forma agradável sem enlouquecer. Mas a questão do cabelo(emblemática) tem como resolver com a ida de uma profissional de máscara em sua casa. Com determinados cuidados dá para cuidar da aparência e se sentir revitalizada.

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    1. Inês, o interessante é que gostei de deixar o cabelo crescer. Se não fosse com o isolamento, não conseguiria. Mas, agora, só dá para usar preso.

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  2. Esqueci de dizer. A foto ,muito linda, iluminou o seu texto. As flores deram um toque especial à sala. Além de escrever bem suas fotos são sempre criativas!

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  3. Que bom te ver! Esse ano foi realmente cheio de surpresas e choques.
    Mas até aqui temos que, apesar da saudade do convívio, pensar que estamos aqui e enfrentando tu d o,à medida que nos chega! O cabelo tá bom...Que venham os últimos dias do ano,aqui logo teremos a cirurgia do Kikomas logo passará e pretendemos entrar com tudo,força, fé, coragem,no outro ano.bjs tudo de bom,chica

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    1. Oi, Chica, deu para variar com o cabelo. Agora uso com um "rabinho".

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  4. que foto linda. eu não aguentei e há um mês cortei meus cabelos. eu e a cortadora de máscaras. não lavei. e tudo volta a ficar aterrador. falta pouco. se cuida. beijos, pedrita

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  5. Quantas coisas aconteceram em um ano...E muitos ainda continuamos iludidos achando que o tal presidente é competente, seu comportamento aceitável. Em um ano banalizamos a morte iminente nos rondando diariamente.
    Em um ano cabelos crescem, muito! Por aqui eu mesma estou cortando, cheio de falhas, mas não me importo com essas coisas.
    Que paisagem maravilhosa tem de sua janela, com certeza faz a reclusão menos dolorosa um cadinho.
    Abração Heloísa,, cuidemos-nos até ter segurança!

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    1. É verdade, Dalva, essa paisagem que tenho da minha janela foi muito importante para minha saúde, nesse ano difícil.

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  6. Olá Heloísa: um relato muito bem feito do que tem sido esta pandemia .O mundo mudou e o medo instalou-se. Esperemos que tudo volte à normalidade possível.
    Achei graça ao tamanho do seu cabelo. De certeza que lhe fica bem e é bom mudar de vez em quando.
    Bjn
    Márcia

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    1. Márcia, acho que minha época de cabelo comprido já passou. Mas não há problema. Posso usá-lo preso, e variar o visual.

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  7. Un bonito escrito y una foto evocadora, las flores, el mar, tu preciosa melena, hasta me parece ver un bastidor de costura en el silloncito de la derecha, esperemos ya dejar atrás este triste año y que el dichoso virus se mantenga el tiempo que le quede muy lejos de nosotros. Un beso muy grande Heloisa y mucho ánimo

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    1. Pilar, você é muito observadora. Realmente a foto mostra um bastidor, uma caixa de linhas para bordados e uma sacola com outros materiais. Tudo isso tem me distraído bastante, nesses dias difíceis. Beijo.

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  8. Olá, Heloísa!

    Compartilho com você o sentimento de tristeza perante tantas mortes.
    Um ano tão difícil, sofrido.

    Muito bonita a foto e com uma linda vista além da janela. Um presente aos olhos.

    Um abraço e desejo de que tenha um Natal de paz.

    Sônia

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  9. Helô,

    Este ano ficará em nossas memórias como o ano do temor e das mortes, o ano do isolamento e da tisteza, o ano em que o mundo parou, Um ano inacreditável! Há muito que se diz que as gerações que nasceram após a 2ª grande guerra não tiveram peso nenhum na HISTÓRIA, porque não conheceram os verdadeiros desafios do mundo. Mas eis que nós, de repente, nos deparamos com um imenso desafio, o de continuar vivos! Queira Deus que os próximos anos sejam melhores, já que as mudanças e os ciclos são da própria natureza do universo. Gostei do seu relato, experimentei quase a mesma coisa.

    Beijo

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