Vivendo o ano do isolamento




O ano está acabando. Ano difícil, para todos. 

Para todos, do mundo todo.

Inacreditável o acontecimento que atingiu pessoas do norte, sul, leste e oeste, com uma velocidade enorme e deixando resultados nunca pensados.

De todas as fatalidades, de todas as perdas, de todas as sequelas, tivemos ciência. E milhares sentiram essas perdas e dores muito de perto.

Não é preciso comentá-las. Vou tentar falar das coisas boas que vivi, no meio de toda a tensão da pandemia. Era preciso descobrir uma forma de viver bem o isolamento.

A grande realização foi completar, em novembro, 83 anos de idade, com saúde e disposição. E força para a caminhada difícil iniciada com o distanciamento social. Muita, muita gratidão.

Me dediquei bastante à costura criativa, cuja aprendizagem eu havia iniciado em outubro de 2019. Foi minha tábua de salvação nessa sucessão de dias difíceis. Consegui me desenvolver bem e fiz muitos, muitos trabalhos. Bolsas, bolsinhas, carteiras, porta-celulares, jogos americanos ... 

Um trabalho envolvente, que me deu muito prazer.

Retomei o bordado, aprendido na meninice e pouco praticado no decorrer da vida. Entrei "na onda" dos quadrinhos de bastidor, objetos de decoração, que me distraíram bastante. A escolha do tema, os riscos, a passagem do risco para o tecido, a escolha de cores, dos pontos, o bordado. Várias fases que me afastaram de qualquer pensamento de desânimo, e me trouxeram muita tranquilidade.

Aprimorei a culinária. Nos primeiros meses cozinhei bastante, pratos caprichados e meio trabalhosos. E ainda pratos rápidos e saborosos. Até que fui alcançada por um cansaço grande, e procurei outras formas de resolver a questão da alimentação. Confesso que, muitas vezes, sonhei com pílulas milagrosas que substituíssem a comida. 

Li pouco. Inexplicavelmente não tinha tranquilidade para encarar a leitura. O mesmo em relação ao piano. Toquei pouco, mas quando me propus a isso, me senti muito bem. Parece que a ansiedade, trazida pela pandemia, se concentrou nessa área.

Fiz pães, assisti a filmes e séries. Tomei sol na área de serviço. A semana começava e terminava num instante. Meio difícil foi saber, com rapidez, em que dia do mês e da semana estávamos. 

E houve outros acontecimentos importantes que merecem registro, como o primeiro encontro com filha e neta, após dois meses de isolamento. Com distância, sem abraços ou beijos.

E, claro, a companhia diária do marido, 24 horas por dia, 30 dias por mês. Ele se revelou um bom auxiliar nos serviços domésticos, e aprendeu bastante com o confinamento. Passou a entender dos lugares em que as louças e panelas devem ser guardadas, de tirar roupa da máquina de lavar e colocá-la no varal ou na secadora, de comandar a lava-louças, de usar o aspirador de pó. Foi, e é, um companheiro e tanto.

E eu ia esquecendo do principal garantidor de beleza, nesse ano limitado: o mar e seu entorno. Olhar a praia todos os dias, ver o mar, sua cor, seu movimento, as ondas grandes, as ondas pequenas, as marolas. A luminosidade do amanhecer, e do entardecer. 

O céu, mais claro, mais escuro. Com nuvens, sem nuvens. Crepúsculos fogosos.

Foram muitos e muitos espetáculos lindos. Todos eles trazendo encantamento e paz.

Portanto, sem esquecer a tristeza trazida pelas quase 200 mil mortes, e o que isso representa para milhares de famílias, não posso deixar de agradecer a Deus pela proteção que nos concedeu, e pelo meu caminhar saudável nesse ano terrível.

Que o novo ano chegue trazendo esperança e um mundo melhor.


Nota - Relendo o texto, achei que ele ficou com um jeito de release. Acho que é a primeira vez que escrevo um. 

Foto tirada daqui.


Comentários

  1. Muito bom seu relato, tia.
    Fez do limão uma limonada. Parabéns!

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  2. Tanta verdade,Heloisa! Aconteceram tantas coisas ruins no mundo inteiro. Foi um sufoco. O que nos ajudou foi olhar pra fora..No meu caso, só o céu e suas mudanças...Muitas saudades de conviver com família...Mas apesar de tudo, temos GRATIDÃO,pois tudo enfrentamos e aqui em casa, tivemos muito a enfrentar com saúde do Kiko e aqui chegamos...Por isso agradeço!Lindo e feliz 2021, cheio de saúde, amor, paz e que com tudo isso nos encontremos sempre aqui! beijos,chica e parabéns ainda pelos 83!

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    1. Como eu, você contou com uma janela que lhe permitiu visuais lindos. E você partilhou conosco.
      E teve os problemas de saúde com o Kiko. Enfrentados muito bem.
      Sim, vencemos as dificuldades.Agora, pra frente.

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  3. ah , parabéns atrasado. pra variar fiquei na dúvida se o aniversário era seu pq não consigo acreditar que já tenha 80 anos. acho q é sempre muito menos. sei q não é 60 pq já me disseram q não, então acho q vc já deve ter 70 anos, mas 80, nem pensar. eu tb achei q leria mais. mas os afazeres domésticos ocuparam mais esse tempo q a leitura. seus trabalhos são lindos demais. eu não vivo com o meu pai, mas nós "estarmos juntos" nesse período foi muito importante, um ajudando o outro a lidar com tudo o q aparecia nessa época. eu tenho uma bela vista da janela. qd estava irritada olhava o prédio em construção subindo e subindo, mas em geral olhava o horizonte e respirava pra pensar, filosofar. que a vacina venha logo. acho q já está demorando muito. é isso q desejo pra todos nós. coragem em 2021 tb. obrigada pela sua amizade.

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    1. Pedrita, obrigada pela amizade e por estar sempre presente.
      Os 80 chegam muito antes do que a gente espera.

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  4. Que lindo Heloísa, é quase um reencontro dentro de si! Mais uma prova de que o que nos fortalece vem de dentro, nas coisas simples que ficam dentro da gente.
    Gostei dessa conversa de pílula substituta de refeição, tem horas que me sinto assim também, apesar de gostar de cozinhar.
    Muita saúde, luz e afeto para todos, abraço!

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    1. Dalva, a cada instante é possível comprovar a importância da simplicidade.
      Feliz ano para você.

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  5. Um testemunho bem bonito e cheio de esperança. Tão bom que tenha desenvolvido os seus hobbies.
    Votos de um ano novo muito feliz.
    Bjn
    Márcia

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  6. Oi, Helô, bom dia e boa semana!

    Veja você, confirmamos - na prática - que há um lado bom em tudo, a gente só tem que procurá-lo!
    O seu ano, apesar dos pesares, foi produtivo e tranquilo e isso somado à sua boa saúde e boa disposição resultaram num ano mais do que razoável.
    Pelo que vi, você vem se saindo otimamente nas artes que escolheu praticar, se quisesse até poderia vender as peças produzidas.
    De resto, parabéns pelos 83, pela lucidez e sabedoria! Que 2021 seja um bom ano para todos aí!

    Um beijo

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  7. Olá!


    Penso que nunca estado neste seu blog.

    Que este novo ano nos deixe fazer o que mais gostamos

    em paz e serenidade!

    Saudações!

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  8. Heloisa aplaudo tu manera de afrontar estos tiempos que nos ha tocado vivir, demuestra que eres valiente. En castellano se dice: "A lo perdido sacar partido". Hemos de amoldarnos al día a día y sobretodo ocupar nuestras horas, creo que eso es muy importante tener el cuerpo y la mente ocupados, intentar sentirnos útiles, y los que tenemos la suerte de poder estar recluidos con nuestra pareja, compartir los buenos momentos con ellos y dar gracias a Dios por darnos salud. Me alegro de que hayas podido encontrarte con tu hija y con tu nieta, ña familia es tan importante... Recibe mi abrazo muy cariñoso

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  9. Heloisa, hace tiempo que no publicas, espero que en tu familia sigáis todos bien. Un fuerte abrazo

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  10. Heloisa, ¿estáis bien?. Un fuerte abrazo

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